domingo, 31 de julho de 2011

DIA 31/07. Uma entrevista, despedidas e agradecimentos



Manoel Benedito Soares (Seu Noé)


Hoje pela manhã seu Zacarias nos levou para entrevistar o senhor Manoel Benedito Soares, 81 anos, conhecido como seu Noé. O objetivo dessa entrevista foi gravar informações a respeito da comunidade do Bomfim. Uma vez que seu Noé é o morador mais antigo desta comunidade de São João da Ponta ele nos informou desde as primeiras casas construídas na comunidade do Bomfim, da devastação da mata nativa, da primeira professora que a comunidade teve, a senhora Maria Martins Dias até os casos de visagens que inundam o imaginário de seus moradores até hoje. Como os casos de tesouros enterrados por pessoas quando vivas e que depois de mortas suas almas não descansam e não deixam os vivos descansar até que o dinheiro, joia, ouro ou outros bens sejam desenterrados.
Esta entrevista foi bastante sucinta, seu Noé respondia as perguntas diretamente e aguardava em silêncio até que a próxima pergunta fosse feita. Neste domingo fizemos apenas esta entrevista. Seu Zacarias nos acompanhou até o final. Houve a necessidade de uma segunda viagem para São João da Ponta a fim realizar entrevistas que não foram possíveis de ser realizada por alguns motivos, entre eles, o tempo.
Despedimo-nos por aqui de São João da Ponta levando saudade e muita experiência na mochila. Agradecemos a todos que nos acolheram e nos ajudaram a iniciar este trabalho que terá como resultado um livro impresso onde a temática será as memórias do município de São João da Ponta. Um agradecimento muito especial ao seu Zacarias Bandeira, que nos disponibilizou estadia na Sede do município, no prédio da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de São João da Ponta (Mocajuim) e também em sua casa na comunidade do Açú. Graças a isso, pudemos estar postando estas notícias de campo através do sinal do programa Navega Pará. Agradeço ainda ao auxílio do meu amigo Deividy Edson, que trabalhou duramente fazendo as fotos, gravando o vídeo e ajudando-me na edição e redação destas postagens.
No mais, o trabalho foi muito produtivo do meu ponto de vista.



Walter Rodrigues
Deividy Edson (Colaborador)










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Observação: Os nomes e as informações prestadas pelos narradores denominados acima são respaldados por Autorização assinadas pelos mesmos. Toda informação aqui apresentada são autorizadas por seus autores para uso de fins didático.





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sábado, 30 de julho de 2011

DIA 30/07. Comendo poeira até a comunidade do Açú


Pela estrada de terra a moto seguia e os carros que ao encontram vinham no sentido contrário seguiam levantando poeira. Nossas entrevistas agora se desenvolveriam na comunidade do Açú, que ficava a alguns poucos quilômetros da Sede do município.
Iniciamos nossa entrevista com seu Zaca, como é conhecido por todos, pescador e presidente da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de São João da Ponta (Mocajuim). Onde ele nos falou de suas experiências na arte da pesca e como presenciou a devastação do meio ambiente que o circundava na juventude e que hoje nem de longe lembra o que um dia foi. Rios e igarapés assoreados em decorrência da ação de influências antrópicas, como a estrada que liga o município de São João da Ponta a PA 136 que nunca é concluída.  
Zacarias Monteiro Bandeira

Raimundo Monteiro Bandeira
Depois continuamos nossa conversa na frente da casa de seu Raimundo Bandeira debaixo de uma castanheira de copas frondosas. Seu Raimundo nos falou de como era o município de São João da Ponta, quando ainda pertencente a São Caetano de Odivelas. As lendas e os casos de assombração/visagem foram narrados por seu Zacarias e Raimundo de forma impressionante. Quando vimos já era quase meio dia. Seu Zacarias nos levou até sua casa novamente e almoçamos um peixe serra com feijão e arroz, divinamente feitos e servidos em sua cozinha.


Texto: Walter Rodrigues e Deividy Edson.
Fotos: Deividy Edson.
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    O pescador e sua pesca de cada dia



    Aproveitando a maré que está alta, seu Alcides (o Siribóia), segue com seus passos miúdos, embora muito decididos em direção a sua montaria aportada junto ao trapiche da praça de São João da Ponta. Embarca em sua embarcação coberta por uma tolda que desenha sobre a canoa um curioso arco com cerca de meio metro a ditar do calado a tolda azul. Remos nas mãos, em pé na parte frontal da canoa, olhos fixos no rumo de onde estão os peixes. E lá se vai o nosso incansável pescador de 86 anos descendo o rio Mocajuba mais uma vez. Cumprindo sua missão de anos a fio com muito amor. A necessidade daquela atividade já não é material, trata-se de uma necessidade da alma. Pois como diria sua esposa dona Maria: “Precisar ele não precisa mais. Somos nós dois aposentados e nossos filhos já estão todos criados”.

    E eu observo seu Siribóia parado mais sua canoa no meio do Mocajuba. Sentado e segurando firmemente a linha onde está o anzol. Sinto um desejo imenso de poder estar por alguns minutos dentro de sua cabeça para sentir e entender como aquele senhor de estatura baixa, pequenos negros olhos redondos e um jeito todo especial de narrar suas histórias. Será que ele estaria pensando naquele peixe Mero com mais de 40 kilos pescado por ele após uma batalha de muitas horas em que o peixe lutou bravamente com o pescador de 84 anos (na época) até ser vencido pela habilidade e experiência daquele homem de olhos perdidos no espelho das águas calmas do Mocajuba nessa manhã de sol de julho... Ou estaria pensando nas animadas festas de Carimbó aonde os homens iam vestindo paletós muito elegantes...
    peixe Mero  (Epinephelus itajara)
    Seu Siribóia encosta sua canoa ao lado do trapiche da praça. A pescaria não foi muito boa. Apenas alguns peixinhos. O rio Mocajuba de hoje já não é mais o mesmo rio pesqueiro de outrora. Joga-se a pequena âncora e logo em seguida desembarca o pescador e seus pescados. Sua casa é logo ali. Então ele atravessa toda a praça com seus pequenos passos, dobra a direita e entra em sua casa.

    Texto: Walter Rodrigues e Deividy Edson.

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      sexta-feira, 29 de julho de 2011

      29/7. Segundo dia: mais entrevistas na Sede


      Dona Marcinha
      Acordamos cedo e partimos para as entrevistas com dona Marcinha e seu Apolinário. Mas primeiro, precisávamos fazer algumas imagens e buscar a autorização de uso de imagem, som de voz, nome e dados biográficos em obras de preservação histórica de seu Alcides Chagas de Sousa (Seu Siribóia), documento este que usaríamos com todos os nossos entrevistados, pois o conhecimento que eles nos viessem informar era de propriedade intelectual sua e, por tanto, não poderíamos usá-las sem o consentimento de seus legítimos autores.

      Apolinário
      Assim feito, as entrevistas com dona Marcinha e Apolinário duraram cerca de 2 horas, onde nos foi informado a respeito dos cordões, danças, festa de reis e de ano, festividades, bois-bumbás entre outras expressões artísticas que no passado existiram e que hoje apenas existem na memória dos que vivenciaram esta época. O senhor Apolinário nos narrou a situação do Carimbó no passado e no presente no munícipio, a formação do grupo “Frutos da Terra”, e ainda explicou-nos sobre os instrumentos musicais utilizados nas apresentações  além de nos contar alguns casos de assombrações presenciados por seu hoje falecido pai. Entre outras informações que nos serão de grande ajuda para a redação do livro.
      Seu Domingos


      Pela parte da tarde encontramos com seu Domingos Santarém, que é um profundo conhecedor das plantas medicinais, rezas e massagens. Seu Domingos nos informou sobre sua vivência como pescador, seu trabalho como curandeiro e benzedeiro além de nos mostrar cada planta de seu quintal e nos explicar a serventia de cada uma.










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        DIA 28/07. Pesca e Carimbó: primeiros contatos em São João da Ponta


        Alcides Chagas (Seu Siribóia)
        Com chegada por volta das 17:00 horas na Sede do município de São João da Ponta, não demorou para nos encontrarmos com o senhor Zacarias, presidente Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de São João da Ponta (Mocajuim, que nos levou para nossa primeira entrevista com o senhor Alcides Chagas de Sousa conhecido como Seu Siribóia, 86 anos de idade e pescador na ativa até os dias de hoje. Neste dia, contamos também com o apoio do senhor Vergara Filho do ICMBio (Gestão da Resex de São João da  Ponta) e com a presença da senhora Sandra da RESEX Marinha de Mãe Grande de Curuçá. Ali, seu Siribóia nos narrou suas vivências na arte da pesca e suas lembranças da época de sua juventude quando ainda se usava paletó para dançar Carimbó nas noites do munícipio.

        João Palheta


        Logo depois seguimos para casa do senhor João Batista Palheta, e ali conversamos a respeito das pescarias e festas de Carimbó, cordões e pássaros juninos, assim como da Matinta-Perera, que tanto seu Alcides como seu João e outros pescadores chama de A Feiticeira, e que em noites tranquilas de pescarias são incomodados pelo o assovio agudo e penetrante da mesma. Embora meio adoentado, seu João, nos recebeu com muita simpatia e interesse em dividir seu conhecimento.




        Seguindo em frente e dobrando a direita no próximo cruzamento das quietas ruas da Sede de São João da Ponta, andamos uma quadra até estarmos todos sentados na varanda da casa de dona Márcia Pereira de Matos Almeida, a dona Marcinha, como é conhecida carinhosamente por todos do lugar (ver postagem sobre a entrevista clicando aqui). Uma grande defensora da cultura do munícipio e criadora de cordões e danças folclóricas. Ali também se encontravam muito dos participantes do grupo de Carimbó “Frutos da Terra”, incluindo o senhor Apolinário de Matos Almeida, filho de dona Márcinha e líder do grupo de Carimbó “Filhos da Terra”, que desenvolvem um trabalho de preservação desse ritmo paraense no munícipio sendo o único grupo de Carimbó atualmente de São João da Ponta. Apresentamos a proposta de nosso projeto a eles e ficamos de voltar para as entrevistas na manhã do dia seguinte (ver postagem sobre a entrevista clicando aqui).
        A noite fomos até a praça para assistirmos o show do grupo “Filhos da Terra”, que animaram a noite com sua música de batidas rápidas e envolventes.